Uma vez que todos os filhos têm os entediantes arrufos
familiares, em casa, não resisti à redacção deste texto, ou espécie de texto, que muitos me dizem
ser uma crónica. É pensar e escrever. É pensar que se sabe escrever, mas enfim…
Então, e voltando ao assunto impulsionador desta mísera
crónica, devo dizer que ter filhos não deve ser fácil. Eu não tenho. Mas tento
entender. Eles querem, pedem, choram e tentam ter direitos a todo o custo,
fechando os olhos e tornando-se cegos no que diz respeito ao montante de
deveres que a custosa profissão de filho arrecada. E eu não sou filha de
profissão, sou filha porque gosto de o ser, pois, diga-se de passagem, que há
dois tipos de filhos: os realmente filhos e os aparentemente filhos. Existe apenas
uma diferença redundante nestes dois géneros. Os primeiros têm total
conhecimento das suas funções, os outros não. E, é neste sentido, que os
aparentemente filhos me levam a escrever a crónica.
E giramos, novamente, à volta de um velho e lendário assunto
familiar: a hora de dormir. Aconteceu que a minha irmã não queria dormir.
Suponhamos que ela se chama I…( quiçá de Inês). Mas a I estava cansada, e
perante tal estado psicológico, os pais insistiram na sua ida para a cama.
Todavia, meus caros filhos, aparentemente inteligentes, ir para a cama não
significa obrigatoriamente dormir. Há imensas realidades escondidas e ilusoriamente
“nefastas” que nos completam. Ler. Escrever. Reflectir. Pensar. Tudo o que
podemos, inconscientemente, fazer à tona do nosso colchão, já um pouco duro,
mas estimulador de actividade cerebral intensa. E mais, meus senhores, quem
dorme mais tem mais probabilidade de atingir um grau de inteligência elevado,
pois essas pessoas repousam o seu cérebro mais vezes do que cada um de nós,
aparentemente filho.
A I ficou chateada. Indignou-se. Falou alto. Esperneou, e,
a meu ver, descaiu uma lagrimazinha matreira pela sua cara de criança jovem,
sem deveres…Com direitos. E eu via aquela cena, estupefacta. No início, estava
do lado da I. Mas depois, entendi sobriamente que a tarefa de pai é deveras
incongruente. Ora porque este já foi filho, aparente ou não, ora porque é pai.
Mas qual a melhor decisão a tomar?
Será certamente uma escolha árdua, que os pais tomam em
menos de dois segundos, pois a escolha correcta deve estar tão enraizada nas
suas mentes, que estes já não pensam no que teriam eles feito e como teriam
reagido perante a mesma situação, quando tinham a tenra idade dos filhos.
Pensem, pais. Pensem bem. Já que eu, filha por prazer, ainda
consigo pensar por mim própria.